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QUEM VÊ MÁSCARA,VÊ CALÇÃO!



Tinha ficado seis meses em casa. Sozinha. Literalmente sozinha.

Estava próximo dos quarenta com a libido ainda batendo forte em seu ventre. A abstinência sexual imposta pelo isolamento social tinha afetado suas conexões neurais deixando-a um tanto quanto desestabilizada por assim dizer.

Com as novas regras de restrição em voga não demorou a ir para a rua de máscara e munida de álcool gel cumprindo o protocolo.

Em princípio animou-se com o azul do céu, com o sol no rosto e o sentimento de liberdade que invadiu seu corpo.

Começou a observar o ir e vir das pessoas em sua grande maioria todas de máscaras.

De forma praticamente inconsciente, e provavelmente por estar sob os efeitos da abstinência, percebeu-se associar as máscaras faciais usadas pelas pessoas às roupas íntimas delas.

Tinha de tudo: de bolinha, infantil, tigresa, zebra, listrada, coloridas, super-herói, uma infinidade de estampas.

Aquele rapaz de máscara branca, limpinha, justinha no rosto, deveria usar com certeza uma cuequinha branca colada no corpo. Excitou-se.

Em seguida deu de encontro com uma senhorinha com sobrepeso de máscara com estampa de oncinha. Esta estava fácil de imaginar o que vestia por baixo da roupa, bem como o que levava no pensamento.

Cruzou na calçada com um casal que usava máscara de estampa igual - uma caveira. Não se conteve. Riu por dentro. Construiu logo a imagem de como deveriam ser suas roupas de baixo. Será que trocavam entre si? Será que usavam peças iguais? O sexo deveria ser de matar. Divertia-se.

O que dizer daquele homem de certa idade que usava máscara facial frouxa, amarrotada e com aspecto de mal lavada? Gente, gente, este se largou de vez. E pelo visto estava com tudo largado mesmo. Riu.

E os que as usavam com o escudo de seu time de futebol? Bom evitar. O amor pelo time é tão grande que exibem na cara sua paixão. Seria difícil competir.

Tinha também quem nada usasse como proteção contra o mal fadado vírus. Estes, refletia, eram tarados. Possivelmente nem usavam roupa íntima e estavam sempre preparados para tudo. Destes, mantinha distância. Eram assustadores.

Admitia que existia uma certa dignidade neutra nos que usavam máscara preta. Não se expunham e não entregavam suas preferências e opções, preservavam-se com um certo ar de mistério. Por esses até que denotou um certo interesse ainda que com alguma preocupação. Não sabia o que esperar deles.

Os que usavam a máscara para cobrir a boca deixando o nariz de fora com certeza tinham suas vestes íntimas furadas para que suas partes pudendas pudessem respirar. Com certeza suas ceroulas possuíam aquelas aberturas frontais, sem dúvida.

Entendeu que máscaras faciais podiam falar mais de um homem do que a existência ou não de uma aliança no dedo.

Imersa em suas observações, sentada em um café, percebeu que na mesa ao lado um rapaz de simpática aparência a observava.

Ao trocarem olhares ele de forma amigável a abordou: “- Que loucura tudo isso. Não acha?”

Estava sem máscara pois também estava bebendo um café.

Ela respondeu simpática: “- Oh! Nem fale!”

Ficaram os dois ali trocando sorrisinhos tímidos, até que ele chamou o garçom pediu a conta e colocou a máscara.

Ela abaixou a cabeça e engoliu o quanto pôde a risada.

A máscara dele era com estampa de minions sinceros.

Pensou com seus botões: Quem vê máscara vê calção!



Imagem: Luiza Braun/Unsplash

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