
Para ser sincero preferia não enxergar ou quiçá escutar.
Difícil mensurar.
Nem no tempo da escravidão “oficializada” no mundo cristão tinha notícia de fato ou ato que fizessem meus antepassados desistirem de ver ou ouvir.
Em minha opinião estava tudo distorcido. Era como se a consciência fosse invertida.
As consequências trocaram de lugar com as causas, e os motivos passaram a justiçar efetivamente os meios.
A humanidade em flagrante processo de desconhecimento enquanto espécie me deixava estarrecido.
Considero todos iguais em biologia e, portanto não entendo a batalha feroz presa nos detalhes trazidos pelas diferenças.
Observo que os nuances e matizes, que constituintes da anatomia dos seres humanos, assemelhavam-se a uma paleta de cores. Não posso compreender um mundo em uma cor somente.
Olho para natureza e admiro seus contornos. Em profundo respeito.
A dizimação por tantos desejada agride meu corpo e mente exaurido pelo tempo.
Era covarde, por não querer ver nem ouvir?
Enfraquecido sim. Morto não. Não ainda.
Os grilhões já não mais impedem meu deslocamento. A máscara de Flandres não me cobre à boca.
Exausto, indignado, porém livre, farei número na luta que parece sem fim em defesa da humanidade diversa em gênero, mas irmã em espécie.
Mergulharei fundo no propósito de não desistir sonhando com um olhar sem medo e um agir sem luta.
Eu, você, nós. Humanos.
Unicamente humanos.
É o que nos limita e nos amplia.
Nada mais do que isso ... o todo está muito além disso.
Rodada 97 - Caneta, lente & Pincel
Imagem: Roberto Abreu
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