Gosto da vida que acontece nos intervalos. Adoro um café. Melhor ainda se for em uma praça. Artifício perfeito para observar o tempo passear.
Ouvir música só em pensamento. Sentar na areia da praia, colocar o olhar no infinito e se deixar levar pelo ir e vir das ondas.

Fumar sem ser fumante.
Andar. Um passo após o outro. Sem pedal nem marcha. Os pés em um calçado confortável e nenhum peso nas costas. Somente o caminhar. Sem rumo e sem destino. Sem hora para chegar ou exemplo para dar.
Largar o corpo no sofá. Não ligar a TV, não checar o celular, esticar as pernas e se permitir estar.
A letargia contida no balançar da rede.
O deleite manifestado na consciência do prazer com o encontro do momento.
Aquele instante único que separa a conquista difícil da rotina diária. Comemorar.
Tomar sorvete.
Se jogar em um abraço de mãe.
O esperar pela festa.
Os intervalos são o sal da vida.
Liberam o caminho. Abrem portas, escancaram janelas. O ar circula.
Intervalo é respeito, é encontro. Veneração.
É o ar. É a água. Aplaca o fogo e irriga o solo da vida.
A vida real acontece nos intervalos.
Imagem elaborada pela autora.