Inscreveu-se com antecedência. Fazia um ano que estava totalmente absorvida por este novo projeto de vida. O curso descoberto através da web deixou-a animada, aguardava com ansiedade a possibilidade de abertura de novas ideias e caminhos.
Chegou adiantada, como sempre. Impedida de adentrar no recinto com antecedência foi para a lanchonete da esquina se refrescar.
Não demorou a encontrar uma amiga de curta data que também estava ali pelo mesmo motivo.
Beberam algo, colocaram o papo em dia e com a chegada da hora se dirigiram para o local do evento.
Surpreenderam-se quando entraram. A sala já estava lotada. Resignaram-se.
À frente estava ela. Aquela que era o motivo de estarem lá. Recebeu a todos com simpatia e pseudodescontração. Convidadas a sentar poderiam escolher entre almofadas ou cadeiras.
Instalaram-se as duas em cadeiras, nem tão perto, nem tão distantes da oradora.
Começou a aula.
Aboletada em posição de lótus num puff quadrado, parecia tudo, menos acomodada. Percebeu nela uma aflição, embora demonstrasse descontração ao falar. Visivelmente inquieta, ajeitava-se muito. O tempo todo. Trajava blusa e saia estampada. Esticava e afofava a blusa, mexia freneticamente na saia longa demais para sua pequena estatura.
Classificou tal desconforto como parte de sua personalidade. Chegou a pensar que era a primeira vez que falava em público, o que de forma alguma correspondia à verdade.

Tudo transcorria dentro de uma normalidade blasé – apresentações, pessoas contando a vida – sempre tem - slides e todas essas coisas inerentes a estes eventos, quando aconteceu o inusitado.
A protagonista irrequieta em seus movimentos descuidou-se e ergueu demais a saia num movimento de abano. De sua cadeira Suzana pôde estarrecida visualizar que ela não trajava nenhuma roupa intima – calcinha. Não se conteve, balbuciou: meupaidocéu.
Confidenciou-lhe a amiga já ter tido tal visão, porém achou ter feito confusão com a estampa da saia, não acreditando em seus olhos.
Impressionaram-se as duas com o fato de que as pessoas alocadas nas almofadas estavam bem próximas da palestrante, impossível não terem visto o inusitado ocorrido. Entretanto, todas se comportavam como se nada de excepcional tivesse acontecido.
Concluíram sem delongas que deveriam ter bebido mais na lanchonete. Só com excesso de teor alcoólico no corpo cogitariam assistir a tal espetáculo imposto com naturalidade.
Não prestaram atenção em mais nada. Nem poderiam.
Assustadas e chocadas, menos com o que viram e mais com o que percebiam, elucubravam se ela estava com alguma doença íntima, se era apaixonada, quente, tórrida ou até mesmo se aquilo teria sido um acidente.
Fato é que nunca imaginaram serem surpreendidas por sapo fora da beira do rio.
E que sapo era aquele!
Imagem: Unsplash/Stephen Hocking