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CLASSIFICADOS


Não sou leitora de classificados. Nunca despertaram minha curiosidade. Confesso que sempre achei uma bizarrice da parte de quem os lê.

Não vejo nenhum atrativo naquelas letrinhas miúdas, naqueles quadradinhos delimitadores falando para os do lado: não invadam meu espaço.

Instada pelo ofício me peguei folheando suas páginas onde me deparei com Mozinho agradecendo à Cysinha pela forma como ela o enxergava.

Neste instante todo meu preconceito se desfez. Existia, afinal, poesia nos classificados.

Romântico, meigo, singelo até mesmo gracioso este tal de Mozinho agradecendo publicamente à Cysinha por amá-lo do jeito que é, aproveitando para parabenizar a amada pela data de nove de maio, tudo isso publicamente em um jornal de grande circulação. Fantástico.

Quem liga para essas coisas hoje em dia?


Espécime rara este Mozinho.

Fiquei imaginando como ele seria. Seria magro? Gordo? Alto? Baixo? Careca? Rabo de cavalo?

Seria mesmo um homem? Talvez não. Afinal assinava simplesmente Mozinho para não expor a si e a amada. Cuidadoso (a) ele (a). Gostei.

Mas se homem fosse, tal atitude valorizava muito sua moeda de troca nesses tempos transversos.

Me peguei viajando nas ondas do Mozinho.

A mensagem não era apenas fofa. Era também despretensiosa e honesta.

Tive que invejar Cysinha.

O recado em final de página, pequenininho como imagino serem as posses de Mozinho, espremido entre gigantes da publicidade, gritava mais que o anúncio grande e colorido do Pai Cláudio, que prometia acabar com depressão, síndrome do pânico e impotência.

Fui dormir imaginando o desfecho. Se Cysinha leu o recado. Se eles passaram a noite juntos e se, como nos contos de fada, foram felizes para sempre.

Vai saber.

Imagem: Jornal "O Globo" - 09/05/2018 - Pág. 5 - Classificados


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