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FULGOR SEDANO


Jaziam 54 anos de vida. O tempo não mais o angustiava. Dava por achada a falta de vocação para a vida.

Acordou para a percepção de que podia usar seu poder interno como bem quisesse.

O tempo lhe ensinou a misturar preguiça com falta de propósito no ato de servir aos outros.

Tripudiar e manipular soava macio ao dar ordens em nome de interposta pessoa. Forma linda e grosseira de não se expor ao castigo divino.

Foi o personagem que os outros quiseram. Bandido, delator, alcoviteiro.


No catre onde se recolhia viajava nas reminiscências. Este seria o derradeiro ato. Tudo estava planejado. Depois da ordem executada iria entregar-se ao ócio da sobrevivência pura e simples. Não era merecimento, era direito.

Seria agora apenas Fulgor. Esperava usufruir do nome candidamente ofertado por sua mãe em toda sua completude.

Cumprida a missão, visitou o protético, colocou ouro nos caninos superiores e passou a sorrir recorrentemente.

Acordava cedo e animado para tomar café na padaria. Apertava a mão de todos valorizando o contato humano. Era gentil com as damas. Pagava sorvete para as crianças. Ajudava os idosos. Jogava sinuca com os desempregados. Bebia todas com os perdidos.

E assim vivendo viu desaparecer todas as suas economias. Percebendo-se leso e liso procurou função na antiga profissão, mas ali não era mais reconhecido. A fama precedida tinha sido dizimada.

Arrancou os caninos e vendeu-os no largo conseguindo apenas mais dois dias de lastro.

A perpetrada escolha o escolheu.

Viu-se pobre, sem dente e fialho. Sem fama boa ou ruim.

Morreu do nada, sem nada e para nada.

Assim foi para ele.

Obs.: Exercício Escola Passagens - Conto - Tema: Personagem "Pedro Páramo"

Fonte da imagem: Bryan Minear


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