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QUAL O SEU NOME?



A Lua esplendorosa no céu reina soberana. Primeiro dia de seu círculo perfeito e completo. A festa começa animada.

As barracas de rua assistem ao vai e vem dos interessados no que não interessa.

Em festas de rua sempre se vende o que não se quer comprar.

Passo despercebido entre elas. A festa na verdade é isso. É o simples passar.

Caminho entre as barracas procurando com o que me refrescar neste calor absurdo.

A movimentação é intensa na barraca de cerveja. Só me meto a digladiar porque a necessidade é grande. Dessas necessidades que não se explica. Cumpre-se a ordem e aceita-a sem conflitos.

Enquanto aguardo a birra, vejo passar pelo meu ângulo de visão uma dessas imagens estonteantes, que não se quer e nem se deve esquecer jamais.

Ela… linda… morena… nem alta, nem baixa - altura certa para o gênero feminino, penso eu. Sorriso largo e maroto, daqueles que revelam o teor alcoólico de seu espírito.

O vestido lhe cai dos ombros, que são largos, se ajusta na cintura, modelando seu corpo e se abre em meia roda ao chegar em suas grossas coxas, me fazendo suar.

Graças a Deus chegou a cerveja!

Nada me impede e nem posso deixar de segui-la em todos seus movimentos.

Percebo quando ela focada e distraída remete seu olhar em direção de um verdadeiro Deus de ébano, negro alto, forte, músculos bem formados, trajando moletom cinza e sem cueca. Vejo seus olhos brilharem mais que a lua no céu.

Emolduro todo o cenário, e admirado acompanho tudo como se fosse um filme digno de um Oscar.

No cenário as luzes da rua em contraposição às luzes coloridas das barracas. O colorido dos artesanatos, o cheiro dos quitutes. Tudo conspirando.

Seguindo-a vejo quando ela se encaminha para o meio da rua.

Bem para o meio da rua. Uma dessas encruzilhadas - como se diria em cruz.

Estando ela no epicentro, com a festa toda ao seu redor, em um movimento orquestrado tipo caneca de chá, flexiona o indicador da mão direita em sinal claro de convite ao Divino, obviamente surpreso.


Incrédulo, ele movimenta a cabeça em direção ao peito como a se perguntar: É comigo?

Ela assente. Ele então se dirige até ela e diz: “Minha esposa está próximo de nós, em outra barraca a comprar pantufas!”

Ela olha-o fixamente como se pensando falasse : E?

Vejo quando ele rapidamente se afasta e mais rápido ainda retorna resfolegante, enlaça-a pela cintura e a carrega para uma rua transversal mais tranquila, perto e longe da festa.

Não perco isso por nada, penso. Mas para isso preciso de mais uma cerveja. E volto a me engalfinhar por uma. Desta vez com mais sede.

Não vou conseguir assistir a isso sóbrio!

Pego a gelada e vou correndo e andando aos trôpegos na direção em que os deixei. E logo os percebo.

Os dois em longos beijos , destes de não identificarmos quem está em quem.

Os beijos ardentemente trocados agregados ao movimento frenético de seus corpos denunciam uma cópula pública, criminal, intensa e sorrateira.

Na mesma velocidade que começou, termina. Os movimentos cessam, as pernas dela descem da cintura dele, as bocas se afastam, o olhar baixa, as mãos abaixam a saia.

Ele se ajeita.

E aliviado pergunta: “Qual o seu nome branquinha?”

Ela responde: “Não perguntei o seu!”

Preciso de mais uma cerveja!

Fonte da imagem: John Paul Tyrone Fernandez


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